Acessibilidade       A+  A-          Botão libras  Botão Voz          
O que você procura?
Sabado, 29 de Outubro de 2011.

Movimentos sociais emocionam primeiro dia de Seminário
Evento começou nesta sexta-feira, em São Paulo

Auditório cheio no primeiro dia de Seminário (foto: Rafael Werkema)

O primeiro dia do Seminário Nacional "Serviço Social e a Questão Urbana no Capitalismo Contemporâneo" foi de emoção e debates densos para o público que compareceu ao bairro da Liberdade, em São Paulo (SP), onde o evento é realizado. Até o final deste sábado, dia 29, cerca de 600 inscritos/as, entre assistentes sociais, estudantes e profissionais de outras áreas, de todo o Brasil, estão reunidos/as para refletir e construir estratégias de enfrentamento do/a assistente social frente aos problemas da questão urbana. O Seminário também pode ser visto ao vivo pela internet, por meio do link disponibilizado na parte central do site do CFESS.

A mesa de abertura, tradicionalmente composta por membros das entidades representativas da categoria, começou com a Coordenadora de Formação Profissional da Enesso, Rayara Fernandes. Segundo a discente da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), discutir problemas urbanos na mais populosa cidade brasileira é fundamental para a construção de um caminho de luta frente às desigualdades sociais. "É também importante essa discussão, diante da necessidade cada vez maior da construção do projeto de cidade que defendemos, distinto do projeto capitalista, através da luta articulada entre os movimentos sociais, pela união das forças e pela difusão dessa idéia para a sociedade" afirmou.

Também compôs a mesa a Coordenadora Nacional de Graduação da Abepss, Maria Helena Elpídio, que começou sua intervenção, registrando que essa é a materialização de mais um movimento de luta. "Este evento é uma deliberação que aprovamos no 39º Encontro Nacional CFESS-CRESS, para que possamos refletir e desvendar as dimensões da produção e da reprodução da vida social na lógica capitalista. É nessa perspectiva que precisamos pensar em uma agenda aglutinadora de lutas e estratégias, associadas a outros segmentos da sociedade, de modo a responder e superar as contradições sociais cada vez mais perversas", observou.


A presidente do CRESS-SP, Eloísa Gabriel, e a conselheira do CFESS, Marlene Merisse, abrem o evento (foto: Rafael Werkema)

Em seguida, a presidente do CRESS-SP, Eloísa Gabriel dos Santos, argumentou que o Seminário já consiste em uma estratégia de resistência. "No entanto, ressalto que as reflexões aqui apresentadas tem fundamental importância no debate cotidiano relacionado a nossas atividades, ao nosso trabalho na prática", analisa. Segundo ela, as estratégias se consolidam na participação efetiva de cada um/a. "Precisamos estar na discussão do estatuto das cidades, do plano diretor de nossas cidades, articulando-se aos movimentos sociais, no sentido de garantir o acesso a trabalho, seguridade social publica, cultura, lazer, segurança publica e participação política a todos/as", concluiu.

Representando o CFESS, a conselheira Marlene Merisse destacou a preocupação do Conselho Federal em promover espaços de debate como o Seminário Nacional. "Eventos como esse fazem parte de uma série de atividades, na luta contra as múltiplas formas de opressão da vida cotidiana, em um tempo efetivado pela barbárie, pelas diferentes formas de violência, como a urbana, que mata milhares de pessoas cotidianamente", destacou. Entretanto, a conselheira afirma que, apesar lógica do capital trazer limitações às materializações do Projeto Ético-político Profissional, é tempo de afirmar que a luta coletiva precisa ser fortalecida. "É preciso que nos reapropriemos do lugar em que vivemos, não só como lugar para viver, mas como espaço de produção de conhecimento, de nova relações e de uma nova sociabilidade. Esta perspectiva tem alicerces no projeto profissional do Serviço Social brasileiro e esse evento reafirma o compromisso do CFESS, em articulação com os CRESS e Seccionais, com a Abepss e com a Enesso, na luta por uma formação de qualidade, por trabalho de qualidade, e por uma sociedade, justa, liberta de preconceitos, opressões, emancipada e que reconheça a liberdade como preceito fundamental", completou.

Primeira Conferência

Após a abertura, os debates continuaram na Conferência Crise capitalista e questão urbana, cujas palestras foram iniciadas com o economista, sociólogo e professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), Carlos Bernado Vainer.

O professor fez uma critica ao planejamento neoliberal das cidades. "Nessa lógica, a cidade aparece como se fosse uma empresa, competindo com outras cidades. Por isso, a instauração da cidade-empresa constitui uma negação da construção da cidade política, onde os/as sujeitos exerceriam seus direitos e atingiriam a emancipação", definiu. Ele alertou ainda para um grave problema: a limpeza étnico-racial dos centros urbanos, como as remoções em decorrência dos megaeventos. "A dinâmica político-econômica e social desta sociedade faz com que a ação consciente do Estado seja a de estabelecer que o local destinado aos/às pobres seja cada vez mais distante, sem infraestrutura, sem segurança publica, educação e saúde. Cabe a vocês descobrir como enfrentar e superar essa questão", finalizou.


O professor Carlos Bernardo Vainer (foto: Rafael Werkema)

Compondo a mesa, a assistente social e professora da Universidade Federal Fluminense, Tatiana Dahmer, enfatizou a importância da construção de alianças para fora do Serviço Social. "O Estado tem sido o maior violador de direitos, de modo que a união dessa categoria em uma ação articulada com movimentos sociais, como os aqui presentes, é que fortalece e efetiva uma estratégica capaz de inverter a ordem dominante", destacou. 

A professora citou exemplos das remoções na zona portuária do Rio de Janeiro (que está sendo revitalizada e reformada), enfatizando o trato pecuniário como a solução encontrada pelo Estado para superar o problema. "É uma realidade perversa de que o/a pobre precisa desabitar as áreas centrais, que acabam sendo desapropriadas por valores módicos e utilizadas com fins de valorização e especulação imobiliária. Precisamos nos insurgir contra essa realidade", conclamou.


Professora Tatiana Dahmer (foto: Rafael Werkema)

Movimentos emocionam

O período da tarde emocionou os/as participantes, que se viram diante de relatos e depoimentos de integrantes de diversos movimentos sociais. O primeiro a falar foi o representante da Via Campesina, Joaquim Piñero, que deu início ao Painel Sujeitos Coletivos na cidade e no campo: lutas sociais e estratégias de resistência.

Piñero explicou que a atuação da Via Campesina em espaços de diálogo como o Seminário é fundamental, pois leva a voz dos/as trabalhadores/as rurais que estão articulados/as, no sentido de viabilizar um fortalecimento de suas lutas. "Vivemos em uma conjuntura que age contra os movimentos de massa, mas o que temos claro é que precisamos entender essa conjuntura e fortalecer o processo de formação da nossa militância, ampliar nosso leque de alianças, com parcerias que caminhem no mesmo sentido, contra o sistema hegemônico de nossa sociedade, que é regrado pela lógica capitalista. Para nós, é fundamental esse encontro e o debate com essa categoria de luta", avaliou.

A representante do Movimento Nacional dos Atingidos por Barragem, Liciane Anquiole prosseguiu à mesa, dando um depoimento emocionado dos problemas gerados pela construção de barragens. "Sou de uma região atingida em Santa Catarina, que varreu a moradia de minha família. Criamos uma comissão para avaliar quais são os direitos humanos desses indivíduos atingidos. Para se ter uma idéia, foram identificadas 16 violações nos direitos humanos das pessoas: direito à informação e participação; direito à liberdade de reuniões, direito ao trabalho e padrão digno de vida, direito à moradia adequada. Isso é só para se ter uma noção da falta de soluções. Queremos apenas uma saída que respeite os direitos humanos.", apontou. 



Também no Painel, a representante do Movimento Nacional de População em Situação de Rua (MNPR), Maria Lúcia da Silva, explicou sobre a base do movimento. "Tornou-se tão normal passar na rua e ver alguém deitado sobre caixas de papelão, alguém procurando o que comer em lata de lixo, que foi por esses motivos que surgiu nosso movimento. São pessoas com transtornos mentais, homens que perderam empregos, pessoas que saíram dos interiores em busca de trabalho e não conseguiram, com vínculos familiares destruídos ou interrompidos", afirmou.


Painel da tarde reuniu movimentos sociais (foto: Rafael Werkema)

Segundo Maria Lúcia, a maior bandeira de luta é pela verdadeira dignidade humana, com possibilidade de acesso a emprego, saúde, lazer, educação, cultura. Além disso, a representante do MNPR expressou, em uma perspectiva de totalidade, que "um desejo muito grande de nosso movimento é de sermos todos apenas um movimento, lutando em conjunto, pois assim não precisaríamos estar divididos em tantos segmentos".

Em seguida, o membro da Central de Movimentos Populares, Luiz Gonzaga, conhecido como Gegê, começou sua participação cantando uma poesia sobre a classe trabalhadora. Segundo Gegê, a revolução dos/as trabalhadores/as somente ocorrerá com a insurgência da classe para uma nova ordem societária. "Não é o campo da vida política, partidária, que irá fazer a revolução. No sistema burguês, nós não somos aceitos. Nossa luta é criminalizada. Eleger parlamentares não é fim, é meio, para que possamos tentar lutar pelos direitos da classe trabalhadora", declarou. Ele completou, conclamando a participação da categoria nos processos de reforma, como a agrária e urbana, de forma efetiva, uma vez que o profissional da ponta é que tem o real conhecimento das necessidades das áreas e comunidades. 

A luta feminista entrou em cena na intervenção da representante do Instituto Feminista SOS Corpo, Verônica Ferreira, que falou sobre a luta feminista em relação à questão urbana. "Somos nós mulheres que arcamos com os problemas ligados à reprodução da vida social. Hoje vivemos em um Estado que se propõe como desenvolvimentista, em um modelo de desenvolvimento que gera conflitos ambientais e econômicos e que reforça a exploração e opressão da classe trabalhadora e das mulheres, submetidas também a situações de exploração e violência sexual. A nossa luta é contra essa ordem", observou.

De acordo com Verônica, é impossível analisar a questão urbana sem associá-la à questão racial, de gênero e à divisão de classes em nosso país. A militante terminou, reforçando que, "se na institucionalidade não podemos falar por nós, existe toda uma luta política que nos dá o direito de seguir em frente e falar por uma voz coletiva. Por isso que é fundamental nos engajarmos em movimentos de organização política e seguir na luta, em um contexto de crítica à sociedade patriarcal, no qual o Serviço Social brasileiro tem papel fundamental, fortalecendo o enfrentamento ideológico".


Conselheira do CFESS, Ramona Carlos, encerra o primeiro dia de evento (foto: Rafael Werkema)

A conselheira do CFESS Ramona Carlos encerrou as brilhantes exposições do Painel e os debates do dia, emocionada após os depoimentos dos movimentos sociais. "Falar depois dessas pessoas que trazem em suas vidas as marcas das expressões das contradições sociais é um grande desafio", disse Ramona. A conselheira situou a presença do CFESS na mesa composta por sujeitos coletivos da cidade e do campo, explicando que o Conselho representa cerca de 110 mil assistentes sociais no Brasil, intervindo em diferentes espaços e formas de opressão rotineiramente. "O Serviço Social brasileiro configura-se em uma profissão que afirma e reafirma cotidianamente a luta contra a desigualdade, por meio da competência técnica, do compromisso ético-politico com movimentos organizados, em defesa dos direitos da classe trabalhadora e de uma sociabilidade que atenda às necessidades humanas", destacou.

Segundo a conselheira, é nessa perspectiva que o Conjunto CFESS-CRESS se coloca nesse debate, compreendendo que, nesse processo, os Conselhos assumem um papel importante de estabelecer relações de aliança e solidariedade com os movimentos sociais e outros segmentos da sociedade. "Nessa mesa, assim como em nossas lutas, temos o privilégio de compartilhar discussões, com o objetivo de construir alianças capazes de fortalecer a luta pelo direito à vida em sua plenitude", concluiu.

Confira a programação completa do Seminário, que termina neste sábado

Assista ao vivo aos debates



Leia o CFESS Manifesta sobre o Seminário Nacional da Questão Urbana


Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Gestão Tempo de Luta e Resistência – 2011/2014
Comissão de Comunicação

Diogo Adjuto - JP/DF 7823
Assessoria de Comunicação
[email protected]