(arte: Rafael Werkema)
O Brasil vive um momento de retrocessos nas históricas conquistas de trabalhadores e trabalhadoras, como direitos trabalhistas, direitos sociais e políticas públicas. Além disso, manifestações de profundo conservadorismo se espraiam em todo o pais, especialmente em segmentos médios da sociedade, que reproduzem os preconceitos e anseios inseridos pela elite brasileira, por meio dos grandes veículos de comunicação.
É nessa realidade que teve início, nesta sexta-feira (4/9), o 44º Encontro Nacional do Conjunto CFESS-CRESS, no Rio de Janeiro (RJ). Com o tema “Ofensiva neoconservadora e Serviço Social no cenário atual”, o evento reúne aproximadamente 300 assistentes sociais, dentre conselheiros e conselheiras dos CRESS, profissionais de base e convidados/as.
A mesa de abertura teve início com a estudante Clara Rodrigues, representando a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso); a presidente da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), Raquel Santana, o presidente do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS-RJ), Rodrigo Lima e o presidente do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Maurílio Matos.
A representante da Enesso fez referência à atual gestão da Executiva, dando ênfase à importante aliança entre as entidades do Serviço Social – Conjunto CFESS-CRESS, Abepss e Enesso – no enfrentamento às expressões da barbárie na formação: precarização do ensino, privatização da educação. “Todos esses elementos refletem na formação e no futuro profissional que atuará nesse cenário”, disse a estudante.
A presidente da Abepss, Raquel Santana, ressaltou os desafios que o cenário atual de barbárie coloca para o Serviço Social. “Este encontro reafirma nossa condição de sujeito coletivo, de modo que necessitamos estar coletivamente organizados para juntos construirmos as melhores estratégias de luta contra este cenário”, afirmou ela.
Instigante. É como o presidente do CRESS-RJ, Rodrigo Lima, considerou o tema do 44º Encontro Nacional. “Ter a possibilidade de reunir 300 pessoas durante 4 dias nos traz a possibilidade de sairmos oxigenados para levar esse debate a nossos CRESS, a assistentes sociais de nossos estados e para o nosso trabalho, para juntos seguirmos na luta”, avaliou o conselheiro.
Mesa de abertura contou com o CRESS-RJ, Abepss, Enesso e o CFESS (foto: Rafael Werkema)
Para o presidente do CFESS, Maurílio Matos, “é preciso reconhecer a ação de companheiras que nos antecederam, em tomar a direção do Conjunto CFESS-CRESS, alinhando-o aos interesses da classe trabalhadora, em especial diante da ofensiva neoconservadora que vivenciamos hoje, e que é o tema deste evento”. O conselheiro também falou sobre a metodologia do Encontro Nacional, que, em 2015, está na fase do monitoramento das deliberações aprovadas no passado, em Brasília (DF). “Destaco ainda que estamos aqui para refletir sobre nossa inserção no cenário atual, em uma profissão autônoma em relação a qualquer partido e qualquer governo”, disse o presidente.
Carta Política, Regimento Interno e Homenagem
Em seguida à abertura, a plenária aprovou o regimento interno do evento, conforme é tradicionalmente feito, bem como aprovou o tema da Carta do Rio de Janeiro (documento político produzido ao final do Encontro), cujas referências são as deliberações 17 e 20 do eixo Ética e Direitos Humanos do 43º Encontro Nacional.
O momento seguinte do evento foi uma homenagem do CFESS à assessora jurídica Sylvia Terra, que completou 25 anos de atuação no Conselho Federal em 2015. Nesse momento, a ex-presidente do CFESS Marlise Vinagre, da gestão na qual a assessora foi contratada, a homenageou, representando o Conjunto CFESS-CRESS, em nome de todas as gestões do CFESS desde 1990.
A assessora jurídica do CFESS Sylvia Terra (esq.) se emocionou durante a homenagem. Na foto, o presidente do CFESS, Maurílio Matos e a ex-presidente do CFESS Marlise Vinagre (dir.) (foto: Rafael Werkema)
Mauro Iasi, Yolanda Guerra e Josiane Santos em debate
A conferência de abertura do Encontro Nacional trouxe o tema do evento em um rico debate entre o professor da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauro Iasi; a assistente social e professora da UFRJ Yolanda Guerra e a conselheira do CFESS e professora da Universidade Federal de Sergipe, Josiane Santos.
De acordo com o professor Mauro Iasi, o neoconservadorismo que hoje se apresenta está enraizado em diversos segmentos da sociedade, daí a sua representatividade com o senso comum no Brasil. “O pensamento conservador é, de certa maneira, expressão da consciência social da sociabilidade burguesa em que estamos inseridos”.
Diante disso, ele explica que, em momentos de crise do capital, essa sociabilidade se sente ameaçada, o que leva um conservadorismo ainda mais exacerbado. “Daí que percebemos como todo pensamento conservador leva à lógica do preconceito e se torna profundamente antidemocrático”, observou o professor.
Nesse sentido, a professora Yolanda Guerra caracterizou o cenário atual como “tempos contraditórios às liberdades democráticas”. Segundo ela, isso reflete diretamente nas respostas profissionais da categoria nos diferentes espaços em que se inserem.
Mesa debateu a temática do evento (foto: Rafael Werkema)
“Além disso, a realidade de crise e neoconservadorismo gera mudanças substantivas nas condições de vida e trabalho de trabalhadores e trabalhadoras. Como enfrentarmos? A mobilização coletiva é que vai possibilitar uma política social que traga uma configuração distinta da atual, restritiva de direitos e conquistas sociais e utilizada como pratica de controle e tutela dos governos”, enfatiza a professora.
A conselheira do CFESS Josiane Santos atentou para o paradoxo que se verifica, com a conjuntura desfavorável para que o Conjunto CFESS-CRESS possa colocar em prática a agenda política que vai em defesa dos direitos da classe trabalhadora. Sendo assim, ela analisou como o conservadorismo em novas expressões atravessa as atividades do trabalho profissional de assistentes sociais.
“Nossa categoria, ainda que orientada por uma hegemonia teórico-política, também é influenciada pelo neoconservadorismo. Hoje, as políticas sociais em que uma grande parcela de assistentes sociais está inserida sofre a tendência à focalização, à privatização, o que impacta no cotidiano profissional da categoria. Por isso, sem negar a importância dessas políticas, nao nos furtamos de problematizar aspectos de sua formulação”, avaliou. Segundo ela, preservar a autonomia das entidades do Serviço Social é preservar os compromissos com a classe trabalhadora e com o combate ao capitalismo nas distintas formas de opressão e exploração.
Agenda Permanente e Eixos Temáticos
O segundo dia (5/9) do 44º Encontro Nacional começou com a exposição e aprovação do documento final produzido pelo Grupo de Trabalho (GT) da Agenda Permanente do Conjunto CFESS-CRESS, com a agenda política de ações contínuas e as bandeiras de luta do Serviço Social. Apresentaram o documento, representando o GT nacional, as conselheiras do CFESS Sandra Teixeira e Tânia Diniz, a conselheira do CRESS-AM Ana Beatriz Cyrino e a conselheira do CRESS-ES Poliana Pazolini.
Representantes do GT apresentaram o documento final da Agenda Permanente (foto: Diogo Adjuto)
A parte da manhã terminou com a apresentação da metodologia do monitoramento dos eixos temáticos, que, por sua vez, tiveram início no período da tarde, com a fiscalização profissional e o administrativo-financeiro. Neste domingo (6/9), reúnem-se os eixos da comunicação, formação e relações internacionais, seguridade social e ética e direitos humanos.
O 44º Encontro Nacional vai até o dia 7/9, quando se encerra com a plenária final e a aprovação das deliberações que vão nortear as ações do Conjunto CFESS-CRESS até 2016.
Eixos temáticos preencheram as atividades na tarde do dia 5/9 (foto: Diogo Adjuto)
Confira a cobertura completa do 4º Seminário de Comunicação do Conjunto CFESS-CRESS
Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Gestão Tecendo na luta a manhã desejada - 2014/2017
Comissão de Comunicação
Diogo Adjuto - JP/DF 7823
Assessoria de Comunicação
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