Encontro Nacional reúne participantes de todas as regiões do Brasil para discutir e avaliar as ações do Conjunto CFESS-CRESS (foto: Diogo Adjuto)
Com o propício tema “É preciso estar atento/a e forte”, em um momento de retrocessos nas conquistas de trabalhadores e trabalhadoras e com crescentes manifestações de profundo conservadorismo em todo o pais, começou o 45º Encontro Nacional do Conjunto CFESS-CRESS, em Cuiabá (MT). O evento, que reúne representantes das gestões de todos os Conselhos Regionais, do Conselho Federal, trabalhadores/as do Conjunto e assistentes sociais de base, vai até o próximo domingo (16/10).
Para quem não sabe, o Encontro Nacional é o fórum máximo de deliberação das ações do Serviço Social brasileiro. Serão quatro dias de intensos debates sobre a conjuntura atual e, principalmente, sobre os desafios da profissão.
Na mesa de abertura do evento, a estudante de Serviço Social e representante da Enesso, Mariana Alves Alexandre, destacou a nova gestão da executiva de estudantes, que segue lutando contra o machismo, o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa e toda forma de opressão, em especial na conjuntura atual de avanço do conservadorismo. “Com o compromisso de luta em defesa da classe trabalhadora, queremos fortalecer a mobilização estudantil e, em aliança com a Abepss e o Conjunto CFESS-CRESS, seguiremos resistindo!”, enfatizou a estudante.
O professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e representante da Abepss, Paulo Wescley, ressaltou a importância das três etapas dos Encontros Nacionais ao longo da gestão no Conjunto CFESS-CRESS. “São fundamentais as fases de elaboração, monitoramento e avaliação das ações do Conjunto, principalmente com os desafios que o governo ilegítimo no Brasil nos coloca cada vez com mais rapidez e intensidade. Mas cada assistente social aqui presente está firme na luta contra os retrocessos e na defesa dos direitos de trabalhadores e trabalhadoras deste pais”, afirmou o professor.
Para a presidente do CRESS-MT, Vera Lúcia Honório, o compromisso da categoria de assistentes sociais é com a defesa dos direitos sociais e das condições de vida da classe trabalhadora. “Em uma conjuntura tão adversa e delicada, estamos aqui para reafirmar nossas lutas e construir coletivamente as estratégias que colocarão nossos projetos em prática, baseadas nos princípios e diretrizes construídos ao longo dos anos por nossa profissão”, completou a conselheira.
Quem representou o CFESS foi presidente, Maurílio Matos, que explicou sobre a etapa de avaliação do 45º Encontro Nacional, dando continuidade à implementação da nova metodologia do evento. “Naturalmente, sabemos que, nessa avaliação, o encontro será permeado por análises e reflexões sobre a conjuntura atual. E, mais do que analisar, vamos sair daqui com propostas para enfrentar a realidade que o governo ilegítimo de Temer impõe, com inúmeros retrocessos para a classe trabalhadora”, alertou o presidente do CFESS. E finalizou: “vamos fazer desse Encontro Nacional mais uma reafirmação de que o Serviço Social brasileiro está atento e forte, na luta pela liberdade, democracia, direitos humanos, contra todas as formas de arbítrio, autoritarismo e criminalização dos movimentos sociais!”.
Mesa de abertura do Encontro Nacional, com representantes da Enesso, Cress-MT, Cfess e Abepss (foto: Iajima Silena/Cress-BA)
Conjuntura e o impacto na organização política da categoria
É inimaginável discutir o trabalho e a organização política da categoria sem considerar a conjuntura. Esta foi, portanto, a tarefa da primeira mesa de debates do 45º Encontro Nacional: fazer uma análise crítica da realidade brasileira a partir da crise do capital, a intensificação dos ataques à classe trabalhadora pelo governo Temer, explícita ofensiva reacionária, e possíveis caminhos de resistência e luta de assistentes sociais.
O assistente social e professor da UERJ, Jefferson Lee, afirmou que não há apenas uma explicação para a conjuntura brasileira e que ela não está descolada do mundo. Portanto, se o capitalismo está passando por uma de suas crises mais longas e profundas, e se o capital tem buscado novas formas de lucratividade, é lógico que tudo isso impacta nos países periféricos. “Basta ver que tem sido feito (isolamento) com a Venezuela. Os capitalistas não estão vendo a banda passar tranquilamente e têm buscado reorganizar forcas internacionais”, analisa.
O assistente social e professor da UERJ, Jefferson Lee, apontou a necessidade de se fazer uma autocrítica no campo da esquerda como um dos caminhos para reorganização das forças políticas de luta (foto:Diogo Adjuto/CFESS)
Jefferson opinou sobre momento político brasileiro e reforçou que o Brasil sofreu um golpe. “Você pode chamar de golpe parlamentar, institucional, midiático, o que for. Mas foi um golpe que, na atual conjuntura, não exige tropas militares nas ruas, apesar de já estarmos assistindo em São Paulo, por exemplo, a Polícia Militar reprimir os atos pelo Fora Temer”. O professor chamou a atenção para a intensidade que este golpe atingiu a classe trabalhadora, citando as medidas em curso, como as possíveis mudanças na CLT, a entrega do Pré-Sal, a proposta de contrarreforma da Previdência Social, a PEC 241/2016, entre outros. Para o professor da UERJ, a conjuntura não é conservadora e sim reacionária, favorecendo que medidas neoliberais sejam adotadas. “Parece que vamos conhecer somente agora o neoliberalismo mais cru”.
Para encerrar, Jefferson Lee apontou a necessidade de se fazer uma autocrítica no campo da esquerda, até mesmo para reorganizar as forcas políticas de luta. Segundo ele, não dá para responsabilizar somente o Partido dos Trabalhadores (PT) pelo enfraquecimento da esquerda. Nesse sentido, o professor citou o sectarismo de parte da esquerda, a dificuldade de entender o movimento das ruas e o descrédito de parte da população na política, a quase imobilidade dos sindicatos nos últimos anos. “A população mais pobre não se reconhece na polarização política de hoje. Acredito que o grande desafio hoje não é a unidade da esquerda, mas a unidade da classe. Precisamos de uma frente única de luta. Assim, penso que a greve geral tem menos potencial que o ‘Fora Temer’. Nesse último, encontramos pluralidade. Ainda mais num contexto onde a luta de classes é mais aguda e desigual”, finalizou.
Em seguida, foi a vez da conselheira do CFESS e professora da UFRN, Daniela Neves, fazer sua análise.
Ela também apontou que é na crise que o capital se redesenha e se reproduz, assumindo formas cada vez mais violentas de exploração da força de trabalho. “E o Brasil é uma de suas formas de acumulação na periferia capitalista”. Outro alerta que a Daniela fez tem relação com as mudanças dramáticas na cultura e no modo de pensamento, estratégias também do capital para reforçar sua ideologia. Por isso, é preciso ter atenção com interpretações errôneas da conjuntura, que pode levar a políticas e ações que aprofundarão a crise e a miséria.
A conselheira do CFESS e professora da UFRN, Daniela Neves, apontou estratégias do Conjunto CFESS-CRESS de enfrentamento à contrarreforma em curso do Estado (foto:Diogo Adjuto/CFESS)
Sobre a conjuntura brasileira, a conselheira do CFESS lembrou que ainda em 2015, no governo Dilma, foram propostas medidas ortodoxas enfrentar a crise que penalizaram a classe trabalhadora, aumentando a recessão, o desemprego e os cortes nas políticas sociais. Só que é na “Ponte para o futuro”, do governo “ilegítimo e golpista” de Temer, que o neoliberalismo mostrou sua face mais explícita e agressiva, segundo ela. “Ainda interino, reduziu ministérios, editou a Medida Provisória 727, apresentou o pacote de contrarreforma da seguridade social, aprovou a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), extinguiu ministérios da área social, entre outras ações já apontadas na mesa. Agora, quer congelar os investimentos com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241/2016, sem contar, mais recentemente, com o lançamento do programa “Criança Feliz”, que mostra a volta do primeiro-damismo e do assistencialismo, da desprofissionalização das políticas sociais e da negação do direito social”, criticou a conselheira do CFESS.
No âmbito da organização política da categoria, Daniela enfatizou a urgência de uma agenda diretriz para a luta cotidiana. Em sua análise, o enfrentamento contra as forças conservadoras e reacionárias se dá também no interior da profissão. “Com a ampliação da categoria e na formação, principalmente no ensino a distância, diversificou-se ainda mais o perfil profissional, jogando pra baixo nossa formação”.
Então, o Conjunto CFESS-CRESS pode e deve contribuir para ampliar a articulação política à esquerda. “Temos o compromisso de contribuir com a organização da classe trabalhadora. Precisamos reforçar o legado dos partidos e sindicatos de luta. Temos que disputar a cultura, lutar contra o fetichismo. Defender a proteção social por meio do Estado, pela Seguridade Social pública e universal. Participar das atividades e mobilizações de rua. É construir uma unidade política com ação concreta”, ressaltou.
Para finalizar, a conselheira do CFESS destacou a importância de a categoria reafirmar seu caráter classista. “Somo sujeitos coletivos que buscam construir um mundo melhor. Mas nenhuma das lutas que travamos devem substituir a guerra contra o capital”, finalizou.
Programação
Nesta sexta-feira (14/10) ocorrem os trabalhos de grupos e outras discussões, como o novo Documento de Identidade Profissional (DIP) e a Política de Enfrentamento à Inadimplência. O 45º Encontro Nacional vai até domingo (16/10).
Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Gestão Tecendo na luta a manhã desejada - 2014/2017
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