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Sexta, 18 de Dezembro de 2015.

CFESS se manifesta contra nomeação de novo coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde
Conselho Federal divulga nota pública

Recorte do CFESS Manifesta do Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas 2013 (arte: Rafael Werkema/CFESS) Recorte do CFESS Manifesta do Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas 2013 (arte: Rafael Werkema/CFESS)  

 

Nos últimos dias, uma grande mobilização nacional tomou conta do país, contra a nomeação do psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho para a Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde. Tal ato desagradou muitos/as profissionais, usuários/as, familiares e militantes da luta antimanicomial do país.

 

A Coordenação de Saúde Mental é responsável pela orquestração da Política Nacional de Saúde Mental, em âmbito nacional. Desde a criação e promulgação da Lei 10.216, de abril de 2001, a coordenação tem um papel central na sustentação deste novo modelo assistencial.

 

O Brasil é um dos poucos países do mundo a reformular sua política de saúde mental. Antes da promulgação da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216), o país contava com uma política segregatória que, segundo dados do livro “O holocausto brasileiro”, de Daniela Arbex, matou mais de 60 mil pessoas no hospício de Barbacena (MG).

 

O antigo modelo de atenção à saúde mental tinha como eixo central a construção de grandes hospícios e de internação de longa permanência. O atual coordenador da Política de Saúde Mental, nomeado pelo Ministro da Saúde, tem estreita ligação com esta lógica assistencial.

 

Valencius Wurch foi diretor de um dos grandes hospícios deste país, a rede de hospitais Dr. Eiras. O psiquiatra nomeado para a Coordenação Nacional de Saúde Mental dirigiu a unidade de Paracambi (RJ), de 1990 a 1998, quando a unidade sofreu uma intervenção federal, depois de várias denúncias de maus tratos aos/às usuários/as. Além disso, o psiquiatra já deu várias declarações de que é contra a atual política de saúde mental.

 

A política de saúde mental no Brasil pauta-se na defesa dos direitos dos/as usuários/as e na atenção comunitária em saúde. Esta orientação está em conformidade com os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2007, o país foi elogiado, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu relatório anual, pela atual política de saúde mental.

 

A partir de 2001, construiu-se uma rede substitutiva ao manicômio, constituída por Centros de Atenção Psicossocial (CAPS I, II, III, AD e infantil), residências terapêuticas, ambulatórios de saúde mental, centros de convivência, programa ‘De volta pra casa’ e centros culturais. Tais serviços possibilitaram que muitos/as usuários/as retornassem ao convívio familiar e social, depois de décadas de segregação.

 

Apesar dos avanços da Política de Saúde Mental nas últimas décadas, assistimos à precarização e ao subfinaciamento da Política de Saúde e também da saúde mental – neste campo, inclusive, a ameaça de retrocessos se expressa de outras formas, como a recente iniciativa governamental de financiamento público para as comunidades terapêuticas. Acreditamos que é necessário avançarmos na construção de uma política de saúde mental efetiva, o que implica num maior investimento.

 

Precisamos ampliar e intensificar o processo de desinstitucionalização dos/as usuários/as. Segundo dados de um censo realizado no estado do Rio de Janeiro, mais de 2 mil usuários/as ainda se encontram em internação de longa permanência em instituições asilares.

 

Por isso, não aceitamos qualquer retrocesso na condução da Política Nacional de Saúde Mental. Entendemos que a nomeação de um coordenador contrário à política de saúde mental pode dificultar ainda mais este processo.

 

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) tem participado ativamente de todas as mobilizações e reivindicações do campo da saúde mental, estando presente na Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos desde sua criação, em 2011. Defendemos a efetivação da Reforma Psiquiátrica brasileira, pois somente assim os/as usuários/as desta política poderão ter uma vida plena de sentido.

 

Nesse sentido, convocamos toda a categoria de assistentes sociais a se mobilizar e apoiar os vários movimentos que estão defendendo a saída imediata do Coordenador Nacional de Saúde Mental.

 

Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)

Gestão Tecendo na luta a manhã desejada (2014-2017)