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Terça, 01 de Novembro de 2011.

O Serviço Social luta por uma cidade justa e igualitária
Seminário sobre a Questão Urbana termina com a categoria reafirmando seu compromisso pelo direito à cidade

Seminário reuniu assistentes sociais, estudantes e profissionais de outras categorias para discutir a questão urbana (Foto: Diogo Adjuto)

Se no primeiro dia do Seminário Nacional de Serviço Social e a Questão Urbana no Capitalismo Contemporâneo o destaque foi para os relatos emocionantes dos movimentos sociais que lutam pelas reformas agrária e urbana, o dia 29 de outubro ficou marcado pelo compromisso da categoria em defesa do direito à cidade.

Durante a manhã, a mesa-redonda Serviço Social e a questão urbana: desafios na perspectiva do Projeto Ético-político profissional discutiu o papel dos/as assistentes sociais em defesa de uma cidade (e campo) justos e igualitários, em um contexto de precarização do trabalho. "Em cenários difíceis de trabalhar, não podemos, nunca, perder de vista a perspectiva do nosso Projeto Ético-político, que tem, entre outros princípios, a luta para efetivação de direitos e da cidadania", afirmou a palestrante Raquel Santana, assistente social e professora da Universidade Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp/Franca).

Em sua fala, Raquel fez um resgate da questão agrária no país e a influência na questão urbana, mostrando que parte dos problemas que as cidades vivem é originada de um modelo de desenvolvimento agrário capitalista, adotado há décadas pelo Estado brasileiro, que, devido à monocultura mecanizada, causou a expulsão de milhares de trabalhadores/as do campo para a cidade. "Em 30 anos o Brasil inverteu sua população da área rural para a urbana", afirmou. A assistente social chamou a atenção para o fato de que é fundamental entender e acompanhar, na atualidade, os debates nesse âmbito. "Hoje, o agronegócio é a roupagem da agricultura capitalista. Tem também a discussão sobre a semente transgênica, que ameaça nossa soberania alimentar. Não tem estudo sério sobre os impactos do uso desses transgênicos e, em breve, estaremos nos alimentando deles", alertou. Ao final, Raquel defendeu que o importante é a categoria compreender não só seu espaço de atuação, mas as possibilidade e limites do seu exercício profissional cotidiano.


Raquel Santana fez um resgate da questão agrária no país e a influência na questão urbana (Foto: Diogo Adjuto)

Em seguida, a assistente social e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/Baixada Santista), Tânia Maria Ramos de Godoi Diniz, apontou a necessidade de se entender a questão urbana como parte da questão social e afirmou que o modelo de cidade que o Serviço Social defende só é possível em um outro projeto societário. "O que se tem hoje é uma política de higienização nas cidades e comunidades e uma absurda especulação imobiliária. No capitalismo, a cidade se torna uma mercadoria", criticou. Nesse sentido, ela afirmou que a categoria deve identificar os limites que são dados pelo capital e as condições objetivas do trabalho social (socialização das políticas, serviços com qualidade e articulação com movimentos sociais).  "Nosso Código de Ética já dá direção para que tipo de desenvolvimento para as cidades nós defendemos: democrático e justo, que aconteça sob os princípios da solidariedade, liberdade, igualdade, dignidade e justiça social e sob os fundamentos do respeito à diversidade humana", encerrou.


Ex-conselheira e representante do CFESS no Fórum Nacional de Reforma Urbana, Tânia Godoi Diniz (Foto: Diogo Adjuto)

Direito à cidade e emancipação humana
À tarde aconteceu a conferência Emancipação humana e luta política: desafios na concretização do direito à cidade. E quem abriu o debate foi o arquiteto, urbanista e secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Nabil Georges Bonduki, que apresentou um mapa geral da urbanização no Brasil. Segundo ele, a população urbana representa 85% dos/as brasileiros/as, mas que estes/as ocupam somente 1% do território nacional. Nabil ainda afirmou que: 83% do déficit de habitação é de famílias com até três salários mínimos; 28% das moradias brasileiras têm carência de infraestrutura (tratamento de esgoto, fornecimento de água e energia etc.), sendo nas regiões Norte e Nordestes esses números chegam a 60%; e que 27% dos munícipios brasileiros possuem favelas ou algum tipo de assentamento precário. "O país está longe de ser uniforme. Precisamos de um conjunto de serviços e bens urbanos que dizem respeito à questão urbana, mas estamos longe de alcançá-los. Está claro que o modelo neoliberal não garante as condições básicas de vida", ressaltou.

Nabil destacou a necessidade de se repensar as cidades, que são baseadas em um modelo que concentra os empregos em uma determinada região, transformando outras áreas em periferias distantes. Segundo ele, o crescimento das cidades, orientado por interesses econômicos de curto prazo e movido por uma visão atrasada de progresso a qualquer custo, leva ao aprofundamento da desigualdade social. Isso significa dizer que a população mais pobre é, diariamente, empurrada para as regiões mais precárias. Para finalizar, o arquiteto fez uma analogia à música Sobradinho (de Sá e Guarabyra), que diz que o sertão vai virar mar. "Nesse caso, é a periferia que deve se transformar em cidade que possibilite efetivo acesso às políticas públicas", concluiu. 


O arquiteto e urbanista Nabil Bonduki: "Está claro que o modelo neoliberal não garante as condições básicas de vida" (Foto: Diogo Adjuto)

Depois foi a vez da assistente social Maria Helena Elpídio falar sobre o direito à cidade e a emancipação humana. "Direito à cidade é defender um novo projeto societário, que está bem definido no nosso Projeto Ético-político profissional. É lutar pela igualdade e liberdade. É exigir uma cidade livre do machismo, sexismo e homofobia. É defender o acesso às políticas sociais como educação, saúde, cultura, habitação, previdência social entre outros", explicou.

Segundo Maria Helena, a defesa desse projeto societário deve ser feita articulada com os movimentos sociais que coadunam com essa proposta de modelo societário. "Envolver outros sujeitos coletivos nessa luta é mais que fundamental", afirmou Elpídio. Para encerrar, a assistente social disse que a categoria não pode perder de vista a perspectiva técnico-operativa, teórico-metodológica e ético-política da profissão, e destacou a necessidade de que a formação profissional contemple a abordagem das questões urbana, agrária e ambiental.


"Direito à cidade é defender um novo projeto societário, que está bem definido no nosso Projeto Ético-político profissional", afirmou Elpídio (foto: Diogo Adjuto)

Avaliação final
Após a conferência, foi formada a mesa de encerramento do Seminário. Para a Coordenadora de Formação Profissional da Enesso, Rayara Fernandes, o Seminário foi fundamental para levar o debate da questão urbana à categoria. "Temos a tarefa de levar essa discussão adiante para outros espaços", afirmou.

Já para a Coordenadora Nacional de Graduação da Abepss, Maria Helena Elpídio, a participação dos movimentos sociais durante o Seminário foi fundamental para mostrar que "não estamos sozinhos nessa luta".

A conselheira do CRESS-SP Mauricléia Soares dos Santos também avaliou de forma positiva o Seminário, ressaltando que os Regionais já vinham se preparando para o evento em nível nacional. "Temos diversos CRESS que têm em sua composição núcleos que debatem a questão urbana. E isso deve ser cada vez mais ampliado", disse.

Encerrando o evento, a conselheira do CFESS Marylucia Mesquita disse que o Seminário revigorou o compromisso ético-político da categoria, em um quadro desafiador. "A emancipação humana é o nosso horizonte. Só numa nova ordem societária teremos garantido o direito à cidade para todos/as. E é nesse presente que vamos construir nosso futuro", finalizou.


A conselheira do CFESS Marylucia Mesquita durante mesa de encerramento (foto: Diogo Adjuto)

Participantes elogiam Seminário
A conselheira do CRESS-ES, Fabíola Leal, fez uma avaliação positiva do Seminário. "Foi valioso tanto para a categoria quando para os/as outros/as profissionais de áreas distintas, a quem o evento ofereceu vagas, pois, além dos debates e conceitos importantes para os/as assistentes sociais, o Seminário apresentou elementos para que as comissões dos CRESS/Seccionais possam desenvolver a discussão do tema em seus encontros estaduais", registrou.

Para a assistente social do Paraná, Andréa Braga, que milita e trabalha na área ligada ao Direito à cidade, a mobilização com outros segmentos é fundamental na materialização do Projeto Ético-político do Serviço Social. "A questão urbana perpassa exatamente pelas alianças entre os movimentos sociais e de luta pelo direito à cidade para todos/as. Nessa perspectiva, o seminário constitui um espaço de fortalecimento de nossa categoria, possibilitando o avanço no debate e na construção de estratégias de ação e de enfrentamento dos problemas aqui discutidos", declarou.

"Quero parabenizar o CFESS-CRESS pelo brilhante Seminário e pela excelência da qualidade de transmissão via internet", manifestou-se, por e-mail, Luciana Schimitt, que de Maracaju (MS) assistiu ao evento pelo site do CFESS.

O estudante do 6º período de Serviço Social de Itu (SP), Josuel Rodrigues de Lima, compareceu ao evento e aprovou as discussões apresentadas. "Espaços como esse são estratégicos para estimular nossa categoria a visualizar o problema do direito à cidade em uma perspectiva de totalidade, com o objetivo de construção de uma nova sociedade, em aliança com os movimentos organizados de outras áreas", concluiu.


Link de transmissão online contou com mais de 1200 visualizações durante os dois dias de evento

Participação poderia ser ainda maior
Quase 600 pessoas participaram presencialmente do evento. Foram 450 assistentes sociais, 114 estudantes e 55 profissionais de outras categorias (como psicólogos/as e arquitetos/as).

Na internet, durante os dois dias de evento, foram mais de 1200 visualizações do link de transmissão e dezenas de perguntas pelo chat.

"A participação presencial poderia ter sido maior, mas várias pessoas não compareceram ao Seminário e não informaram à organização, o que impossibilitou a abertura de vagas", afirmou a conselheira do CFESS e integrante da Comissão Organizadora do Seminário, Kátia Madeira. Ela acrescentou que o material foi todo gravado e em 2012 será enviado aos CRESS para divulgação. Existe também a possibilidade de as palestras serem divulgadas no YouTube. "Mas isso só para 2012", afirmou Kátia.

A conselheira fez também uma avaliação sobre o Seminário. "Nós da gestão Tempo de luta e resistência ficamos muito felizes com a realização deste evento tão importante, que representa um marco, ao se constituir no primeiro seminário sobre questão urbana realizado pelo Conjunto CFESS-CRESS, bem como por contar com a presença de outros sujeitos coletivos (movimentos sociais e outras categorias profissionais) que são nossos aliados na luta por uma outra configuração histórica, que atenda às necessidades humanas", finalizou.

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Um pouco mais sobre o Seminário

Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Gestão Tempo de Luta e Resistência – 2011/2014
Comissão de Comunicação

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Assessor de Comunicação
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